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Contando histórias :


Novo Saber

Matakiterama leva pra parente a noticia dos estudos da fronteira, que os parentes fazem livro de conhecimentos da cultura indígena pra ensinar todos os parentes e os outros que assim desejarem conhecer.
Tem muitos parentes reunidos no Rio de Janeiro querendo os nossos direitos, saber como conseguimos. Nossos registros e historias pra colocar num museu/escola, de modo que o orgulho e a honra da nossa gente sejam restabelecidos e preservados por toda gente.
Tem parente brigando pra instituir a Universidade Indígena e eu imagino que não só parentes queiram estudar lá, mas também pessoas que tem o espírito guerreiro, que é amante da terra, dos segredos das plantas e que sabe que a cadeia da vida, respeitada e mantida, trás bons resultados pra todos.
Também têm muitos parentes que se foram e deixaram a historia sem ser contada, sem ser preservada nas bordas dos lagos e na baixa da maré do grande Rio. É preciso reunir nossos parentes naquele lugar, reconhecer os instrumentos que foram encontrados, resgatar a nossa historia e dos nossos parentes e retomar aquele espaço nosso.
Todo canto que parentes viveram ficou descuidado, sem proteção, precisa ser descoberto, reconstruído e ensinar cultura pra ensinar aos novos e não deixar acabar o que sabemos.
Tive um sonho: “parte de um rio com vegetação e todos os insetos, bichos limitados por uma grande tela coberta de aço e de plástico sobre um grande pedaço de terra que era pra ser estudado, de frente deste pedaço de terra engaiolado, havia um prédio com muitas salas de equipamentos diferentes, de tamanhos diferentes, com muitas mesas e cadeiras, tinha também quadro de giz e de caneta, tinha sala de som com muitas caixas e equipamentos de misturar e modificar o som, mas nas caixas saiam sons de bichos de aves e de tudo que tem na mata.
Todas as salas tinham as paredes de vidro e da parede via o sol, a lua e a parte da mata engaiolada.
Tem sala com bichos que já morreram, mas pareciam vivos, tinha sala com bicho vivo, mas tudo com um cordão de plástico com brilho preso.
Outra que tinha uma grande horta e mudinhas de ervas que nasciam de um vidrinho e não da terra.
Tinha também um bonito jardim com flores que eu nunca mais vi, e outras que tinham cor e tamanho diferente das que já vi.
Tem sala com fogão de pedra, fogão de lenha e fogão de gás, tem muitos potes com as ervas que cresceram na horta da outra sala e grãos que uma índia gorda e bonita fazia de comer falando pra todo mundo ouvir e todo mundo escrivia e copiava a fala dela na câmera pra mostrar pras outras pessoas.
Tem uma sala muito grande que o piso é de terra, ali os homens fazem corridas, jogam e brincam, mas quando chegam às mulheres elas também dançam e comem as comidas que elas trazem e tudo fica bonito como nas festas.
Tem ate uma sala escura, que eles dizem que é para estudas os seres noturnos o vidro é escuro e todos usam óculos de ver colorido, mas só o que a lua não ilumina, porque a sala tem vidro escuro que num entra muito o sol, mas de noite, tem uma janela no teto que dá pra ver a lua, lá dá pra ver os bichos acasalando, aninhando, vê bicho caçando, bicho dando cria, flor desabrochando e fruta madurando.
Nessa escola todo mundo sabe, todo mundo fala, todos querem aprender, mas quem fala primeiro é o mais velho e depois o que escreve e lê nos livros, esse fala muito e bem bonito, mas ele pede sempre pra todo mundo falar também, por que todo mundo tem muito pra aprender e mais ainda pra ensinar, assim eles dizem, mas ele diz também, que ele num é o dono do saber, só porque fala bonito lê e escreve nos livros, ele diz que mais sábio é quem viveu mais, porque eles passaram por muitos perigos, dificuldades e tem a experiência das rugas e dos calos pra nos ensinar.
Todo mundo sabe um pouco, só não sabe o que fazer com o que aprendeu até que precise fazer alguma coisa!
Carecia explicar o que fazia eu lá, mas falava com muita gente e ninguém me ajudava. Na verdade eu num sabia o que fazer e nem tinha nada pra dar, então eu dava um abraço e um punhado de sorrisos, comia um aipim dum lado, aprendia um canto de outro, peguei um curumim num braço e da mão de um parente recebi um cachimbo, anrrê, que eu me diverti um bocado e num descobri o que fazia lá.
Tudo era tão grande e bonito, as pessoas pareciam me querer bem e eu estava muito feliz de estar ali com elas.”.
Mas sonhos nem sempre tem um fim, não tem lógica ou respostas, são apenas sonhos! Alguns nos fazem refletir e deles às vezes surgem grandes idéias, outros nos fazem questionar nossas ações, ou mesmo a de outras pessoas, mas este ainda é um sonho marcante que me faz crer que o homem apesar de tanta tecnologia, tantas possibilidades e esforços ainda privilegia as coisas simples e que esta natureza a que submetemos por tantas transformações ainda guarda mistérios e segredos ainda não revelados, não decifrados, que o homem ainda precisa entender.
Mais ainda: O homem precisa preservar pra continuar usufruindo dela!
Quando via aquela mata engaiolada, eu não me sentia propriamente afrontada, não me parecia que estivesse aprisionando a natureza por egoísmo ou por vaidade, mas pra esconder um pouco que fosse daquele tesouro pra que ele fosse preservado bem como o era, e como deva ser daqui para o futuro.
Era uma espécie de incubadora que traria esperança pra aqueles que pouco ou nada teriam de conhecer deste tesouro!


Lú do Rio 26 de julho de 2009